VIda de São Maximiliano
Raimundo Kolbe nasceu no dia 8 de janeiro de 1894, numa cidade polonesa chamada Zdunska Wola. Sua família era muito devota, e foi nesse lar que, desde cedo, o santo sacerdote aprendeu a amar a Nosso Senhor Jesus Cristo, a Virgem Maria e a Santa Igreja.
Ainda na sua infância, São Maximiliano Kolbe recebeu a visita de Nossa Senhora, que lhe ofereceu duas coroas — uma branca, simbolizando a pureza e uma vermelha, remetendo ao martírio —, e pediu ao menino que escolhesse uma delas.
Sem hesitar nem por um instante, ele disse: “eu quero as duas!”. E, a partir daí, sua história foi marcada por episódios que comprovam este profundo desejo de viver em conformidade com a vontade de Deus.
Aos 13 anos de idade, o pequeno Raimundo Kolbe ingressou no seminário franciscano, onde sua devoção à Mãe de Deus o levou a criar o apostolado mariano chamado “Milícia da Imaculada”.
Anos mais tarde, após concluir os estudos em Roma, recebeu a ordem sacerdotal e passou a ser chamado pelo seu nome religioso: Maximiliano Maria Kolbe.
Possuidor de grande amor por Maria Imaculada, o santo acreditava que o mundo precisava ser evangelizado através da melhor tecnologia à disposição na época. Por isso, criou um jornal intitulado “O Cavaleiro da Imaculada”, projeto que se concretizou graças a um árduo trabalho e profunda confiança na Providência Divina.
Além disso, como sacerdote, ele assumiu o ofício de professor, sempre com o objetivo maior de levar almas para Deus. Dessa forma, serviu a Nosso Senhor não somente em sua terra natal, mas também no Japão.
No início da Segunda Guerra Mundial, São Maximiliano Kolbe regressou à Polônia para formar novos franciscanos. Porém, com a perseguição nazista, acabou sendo preso duas vezes e, ao final, foi levado a Auschwitz.
Neste campo de extermínio, Pe. Kolbe foi sal e luz. Seu testemunho de vida, oração, esperança e caridade, amenizou a dor de muitos corações dilacerados pelos horrores que a maldade humana é capaz de causar.
Em 1941, um prisioneiro fugiu do campo de concentração e, sempre que isso acontecia, os soldados da SS — o exército nazista — escolhiam outros 10 presos para a terrível morte por inanição.
Nesta ocasião, dentre eles, estava Franciszek Gajowniczek que implorou desesperadamente para que lhe poupassem a vida, pois era esposo e pai.
São Maximiliano, movido por profunda caridade e por uma ousadia própria dos santos, se ofereceu para morrer em seu lugar. Diante deste pedido, a surpresa dos nazistas foi tamanha que acabaram aceitando a troca.
Todas as vezes que prisioneiros eram levados a esta cela para morrer de fome e sede, a situação era desesperadora: gritos, gemidos e canibalismo. Porém, quando o grupo que estava acompanhado de São Maximiliano estava neste local, o cenário era outro: ouviam-se louvores a Deus e cantos à Imaculada.
Enquanto esteve preso, Pe. Kolbe consolou seus demais companheiros e os preparou para a morte. Com o passar do tempo, os homens foram falecendo, mas o santo permanecia firme. Por conta disso, os nazistas — impacientes com a espera — o matam com uma injeção letal.
Assim, em 14 de agosto de 1941, aos 47 anos de idade, São Maximiliano Kolbe ingressou na Pátria Celeste portando as coroas da pureza e do martírio.
Em 17 de fevereiro de 1941, Maximiliano Kolbe foi preso pela Gestapo.[10] Em 28 de maio de 1941, Padre Kolbe e mais outros 320 presos chegaram à Auschwitz, trazidos de Varsóvia.[11] O número que o identificava entre as autoridades nazistas era 16670.[11]
Em julho do mesmo ano, três prisioneiros conseguiram escapar.[12] O subcomandante Karl Fritzsch, responsável por aquele campo nazista, ordenou que, em represália às fugas, outras dez pessoas fossem levadas para uma cela subterrânea, onde eram privados de luz solar, água e comida.[13] E lá deveriam permanecer até a morte.[12]
Um dos homens selecionados era Franciszek Gajowniczek, que gritou: "Minha pobre mulher e meus filhos que não os volto a ver". Sensibilizado, Kolbe oferece-se para ir no lugar do outro homem.[14]
Contudo, ali entre aquelas filas dos salvos da lenta agonia do bunker, naqueles instantes de alívio geral, nasceu num homem a mais inesperada das decisões. O homem saiu das fileiras - era o «número 16670» - e com passo decidido dirigiu-se para o comandante do campo. Como um sopro de vento, um leve murmúrio passou de um «bloco» a outro por todas as filas do grande quadrado. [...] o terrível Lagerführer Fritsch, vendo vir ao seu encontro, com passo firme, aquele homem inerme, deu um salto para trás, sacando fulmineamente do coldre a «P. 38» de longo cano. «Alto! - berrou com voz sufocada - Que quer de mim este sujo polaco?». Tirou o gorro e pôs-se com dignidade na posição de sentido diante do comandante do campo. Estava calmo e sorridente, com aquele olhar doce; alto, até o ponto que a magreza o tornava esguio; pálido, que parecia diáfano; e a cabeça ligeiramente inclinada à esquerda. Disse, com voz quase sumida: «Queria morrer no lugar de um daqueles», e fez um sinal com a mão na direção do grupo dos dez condenados ao bunker, cercados pelos verdugos. No olhar possesso de «Cabeça de mastim» Lagerführer Fritsch passou a sombra do espanto. Aquilo que ouvira superava a tal ponto a sua capacidade intelectiva que teve, por alguns momentos, a dúvida de sonhar. [...] «Warum?» (Por quê?). [...]«Já sou velho e não sirvo para nada. A minha vida para nada mais se aproveita ... ». «E por quem você quer morrer?» balbuciou Fritsch cada vez mais pasmado. «Por aquele. Tem mulher e crianças ... » e apontou com o dedo, além da cerca dos capacetes de aço dos SS, o sargento Francisco Gajowniczek, ainda soluçando com as mãos apertadas à fronte. «Mas quem é você?» berrou Fritsch. «Um padre católico»
Na cela, Kolbe celebrava a missa e cantava hinos todos os dias. Ele oferecia conforto aos outros presos, encorajava-os, dizendo-lhes que em breve estariam com Maria no céu.
Cada vez que os guardas verificam a cela, ele estava lá em pé ou de joelhos, no meio, a olhar calmamente para aqueles que entravam. Segundo Bruno Borgowiec, "secretário-intérprete-coveiro"[15] dos oficiais nazistas, Kolbe e os demais presos rezavam o tempo todo:[12]
Na cela daqueles miseráveis havia rezas diárias, rosários e cânticos, dos quais participavam os presos em celas vizinhas... Tinha a impressão de estar numa igreja. O frei Kolbe liderava, e os outros presos respondiam em uníssono. Eles estavam tão envolvidos na reza que nem sequer ouviam a chegada dos inspetores da SS.
Após duas semanas de desidratação e fome, só Kolbe e outros três prisioneiros permaneciam vivos. Os guardas queriam a cela vazia e deram a Kolbe uma injeção letal de ácido carbónico. Bruno Borgowiec testemunhou o momento:[16]
Frei Maximiliano Kolbe, desnudo, esquelético como um crucifixo românico, estava ainda sentado na posição dos últimos três dias, com a cabeça levemente inclinada para a esquerda, a suavidade dum sorriso nos lábios, os braços abandonados sobre o corpo, as costas apoiadas na parede do fundo. Diante dele, três corpos descarnados pela fome e pela sede, estendidos no chão sem sentidos, mas ainda vivos. O Dr. Boch moveu-se, frio, impassível, em direção dos quatro últimos sobreviventes da longa agonia de vinte e um dias. Pôs um joelho ao chão, amarrou o laço hemostático no braço esquerdo do primeiro, enfiou a agulha na veia, desfez o laço e comprimiu o êmbolo. Repetiu, depois, a mesma operação nos outros dois que jaziam ao solo, e cada vez, antes mesmo que a agulha fosse extraída da veia, o ácido fênico injetado já havia cumprido sua obra. A imobilidade da morte o testemunhava. Agora era a vez de Maximiliano Kolbe. O carrasco de uniforme branco levantou-se e dirigiu-se até ele. Então <algoz. Eu não pude mais resistir, os meus olhos não quiseram mais ver e, murmurando um pretexto - que devia trabalhar no escritório - fugi ... »